terça-feira, junho 13, 2006

ENJUV 2006 - Porto

Tema: Influenciados – Influenciando

Texto Bíblico: Romanos 12.1-2

Introdução:

Não temos quaisquer dúvidas em relação à actualidade deste tema, acerca da sua pertinência e importância para a vida da Igreja nos dias que correm, bem como da juventude cristã evangélica.

Cada vez mais vivemos numa sociedade aberta, sem fronteiras, onde a informação circula com liberdade e, por esse motivo, somos diariamente bombardeados com uma multiforme quantidade de informações, que tentam influenciar o nosso pensamento e criar correntes de opinião.

Isto acontece em todas as áreas da nossa vida, na área social, mental, física, ética e, sem dúvida, na área espiritual.

Verificamos que as correntes de opinião mudam a uma velocidade avassaladora e aquilo que eram comportamentos reprováveis num passado recente, tornaram-se totalmente aceitáveis; aquilo que era dado como adquirido e inquestionável tornou-se desactualizado e retrógrado.

Podemos lembrar-nos de algumas coisas, tais como a liberalização das drogas, a prática livre do aborto, a proliferação da pornografia, as práticas homossexuais, a sexualidade fora e antes do casamento - tudo isto tem-se tornado perfeitamente banal na sociedade anticristã (não pós-cristã, pois no mundo existem 2 biliões de cristãos, dos quais quase metade são evangélicos/protestantes e, desses, a maioria são pentecostais – é o grupo religioso que mais cresce no mundo) em que estamos a viver.

Por outro lado, a cada momento surgem novas ideias tais como: Jesus ter sido casado, ter tido filhos, Judas ser o seu melhor amigo, Maria Madalena ser a sua companheira preferida, etc.…

Podemos associar tudo isto a ideias como: todas as religiões são iguais, todos os caminhos de alguma maneira levarão a deus, a proliferação do ocultismo, das manifestações religiosas orientais, etc.

No meio de tudo isto o que é que nós, como Igreja, temos para dizer? Qual é a nossa posição diante de tudo isto? Porventura temo-nos deixado influenciar… ou estaremos a tomar uma posição de influenciadores?

Sem dúvida que a Igreja deve tomar uma posição de vanguarda, de arauto da voz de Deus - não nos podemos calar nem deixar-nos influenciar pela sociedade que nos rodeia; antes devemos ter uma voz activa em questões de natureza social, ética e espirituais.

Devemos assumir a posição dos profetas do Antigo Testamento, que não se conformavam com a situação espiritual, ética e social do seu povo (completamente vencido pelos conceitos pagãos dos seus vizinhos) e que clamavam, cada vez mais alto, a expressão da vontade de Deus e da condenação de Deus diante das escolhas do povo.

Sem dúvida que, nestes tempos em que estamos a viver, somos chamados a sermos correctamente influenciados para que possamos influenciar de uma forma efectiva.
A nossa reflexão nesta manhã centra-se nessa ideia - de deixarmos que o Espírito Santo de Deus possa influenciar a nossa vida para que nós possamos, depois de influenciados, ser uma força influenciadora na nossa sociedade, na família, na escola, no trabalho, com a vizinhança, etc.

Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifico vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. (Romanos 12.1-2)

Neste texto, o apóstolo lança um pedido á Igreja (como a expressão rogo-vos indica). O seu pedido é para que a Igreja reaja á demonstração da compaixão/misericórdia/amor de Deus; ora, na visão de Paulo, a única maneira apropriada da Igreja reagir a essa acção do próprio Deus é pela entrega incondicional á acção de Deus na nossa vida. Somente uma entrega total a Ele, como Senhor do nosso ser, é que, em última instância, conduz a uma perfeita atitude de Adoração, a uma vida que debaixo da influencia de Deus e que resplandece a Glória do Criador.



  1. O Propósito de Deus é que nós vivamos para Sua Glória

De acordo com o pensamento teológico do apóstolo Paulo, o homem foi criado com um propósito essencial – o de viver para glória de Deus: Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para a glória de Deus. (I Coríntios 10.31). A ideia inerente ao pensamento do apóstolo é que tudo o que o cristão fizer, qualquer decisão que tome, deve ser para glória de Deus. Por outras palavras a nossa vida deve estar de tal maneira debaixo da acção do Espírito que tudo o que façamos glorificará a Cristo.

No jardim do Éden o homem, no seu desejo de ser semelhante a Deus, afastou-se desse propósito. Assim, ao deixar de estar debaixo da influência de Deus, ao deixar de ser influenciado por Deus, o homem passou a estar sujeito a uma miríade de diferentes influências. É por isso mesmo que Paulo diz: Porque todos pecaram e destituídos (têm falta de …; têm necessidade de …; são inferiores ou menos que…) estão da glória de Deus. (Romanos 3.23).

O homem que está destituído da glória de Deus está obviamente longe da influência de Deus e sujeito a influências externas na sua vida.

Por outras palavras, com a queda, o ser humano passou a ficar num estado de carência do estilo de vida para o qual fora criado. Nós fomos criados para adorar e glorificar a Deus, para sermos cheios da Sua influência na nossa vida de maneira a podermos influenciar outros. Ora, o homem quando está longe de Deus, desvia-se da Sua influência e torna-se incapaz de cumprir o propósito para o qual foi criado - adorar e glorificar o Senhor.

Adão e Eva, não sendo conhecedores do bem e do mal, dependiam exclusivamente da orientação/influência de Deus para fazerem as suas escolhas e tomarem as suas decisões. Ao se afastar de Deus o homem passou a tomar decisões fora da sua influência e direcção; o desejo de Deus é que o homem, voluntariamente, confie n’Ele e na Sua direcção.

  1. Devemos entregarmo-nos totalmente a Deus (sacrifício vivo)/colocarmo-nos debaixo da Sua influência

O pano de fundo da reflexão que o apóstolo está a fazer é a linguagem sacrificial do Antigo Testamento. O sistema sacrificial judaico exigia que o adorador oferecesse no templo um animal ou fruto.
A vida no Espírito exige que nós nos ofereçamos a nós mesmos.

Para aqueles que levam algo para o altar, o acto de adoração termina, finda quando a oferta é consumida, mas para os que se oferecem, o acto sacrificial é só o começo.
Paulo vê o Cristão como um sacrifício vivo, ora isto significa que a entrega, a adoração, a influência de Deus sobre a sua vida é transferida do templo para as ruas, para o local de trabalho, para a escola, para a sua casa, etc.

O foco do ensino de Paulo é a necessidade de busca de uma nova vida – a aceitação de Cristo, renegando as antigas escolhas e influências e depositando todo o nosso ser aos pés de Cristo para sermos cheios do Espírito Santo.

Para Paulo este era o verdadeiro propósito da sua vida - deixar tudo o resto e deixar que Cristo pudesse viver a sua vida: Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim. (Gálatas 2.20)

O pensamento do apóstolo é claro: estar em Cristo é viver de tal maneira debaixo da sua influência que Cristo passa a viver a nossa vida; a Sua influência alcança todo o nosso ser - é como se Cristo nos vivesse.

A entrega dos nossos corpos em sacrifício vivo fala-nos do corpo com todos os seus componentes – necessidades físicas, impulsos, paixões, personalidade, temperamentos, etc.

Ou seja, se decidirmos, voluntariamente, seguir a Cristo, ser discípulos Dele, se colocarmos no altar de Deus o nosso corpo (com todos os seus componentes), se optamos por deixar que Ele viva através de nós, se optamos por ser influenciados por Ele então tornamo-nos canais da Sua influência em tudo aquilo que nos rodeia.
O centro gravitacional da vida do cristão, deixa de ser o seu próprio interesse, os bens, para ser redireccionado para Cristo e para a Sua vontade.


  1. Temos de ser transformados na nossa mentalidade

No entanto, o apresentarmo-nos no altar é apenas o passo inicial porque a natureza intrínseca do ser humano é deturpada, defeituosa.
O facto do homem viver num mundo, também ele deturpado, que segue os seus próprios instintos implica, necessariamente, essa transformação radical de vida – é preciso que o Cristão jamais se conforme com o mundo que o rodeia, pois se o cristão se conformar com os princípios desta sociedade não poderá ser um verdadeiro sacrifício vivo.

O apóstolo adverte-nos que, da mesma maneira que ao nos apresentarmos a Deus (á Sua influencia) seremos feitos semelhantes a Cristo, assim também se nos apresentarmos ao mundo (á sua influencia) isso tornar-nos-á “mundanos”. É por isso que o Cristão necessita ser continuamente transformado.

Esta metamorfose a que Paulo se refere (transformem-se) só é obtida pela renovação da mente, daí a incapacidade humana de transformar-se por si mesmo.
Renovar a mente requer uma alteração dos padrões de conduta e opções de escolhas já presentes na estrutura mental e emocional da pessoa.

É a transformação efectuada pela mente renovada que permite ao cristão viver em sacrifício diariamente.

A mente renovada tem a capacidade de discernir a vontade de Deus conforme esta se aplica á vida quotidiana. A mente que está a ser renovada pode determinar qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus para o viver diário.

A mente renovada tem uma abordagem crítica da sociedade que a rodeia, questiona os seus ideais, confrontando-os com o padrão das Escrituras, confrontando as verdades da sociedade com a Verdade da Mente de Deus, com o Seu padrão revelado nas Escrituras.

Uma mente renovada pensa como Deus, expõe o que está no coração de Deus, aproxima-se do mundo com os pensamentos e com a visão de Deus, cuida do mundo e influência o mundo da mesma maneira que Deus faria entre nós, porque essa mente vive como Jesus.

Uma mente renovada quer marcar a sociedade de acordo com os desejos de Deus.

Desta forma, é por uma mudança interior que o cristão deve evitar a conformidade com o padrão deste mundo (pois a renovação da mente é algo que acontece no nosso interior), devemos ser influenciados por Deus e não pelo Mundo, para que possamos ser canais da influência de Deus para a nossa sociedade.

  1. Influenciados para influenciar

Sem dúvida que é nosso desejo deixar que Deus influencie totalmente as nossas vidas. No entanto, essa acção de Deus tem um propósito – é que nós possamos tornar influenciadores.
Já ouvimos que não pode ser a sociedade a traçar os padrões pelos quais devamos viver, mas que os nossos padrões vêm de Deus. Para além disso não nos podemos esquecer que nós somos os canais da influência de Deus para a nossa sociedade.

A Bíblia revela-nos que Deus enviou o Seu Espírito sobre as nossas vidas para ser uma influência em nós de forma que nós possamos influenciar. Ora nós só seremos uma verdadeira influência na nossa terra se o Espírito controlar a nossa vida, é por isso que o apóstolo Paulo dizia: E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito. (Efésios 5.18)

A ideia de Paulo encaixa na perfeição em tudo aquilo que temos estado a meditar, não nos podemos deixar embriagar com o vinho da nossa sociedade. A ideia de Paulo é que o Cristão não se pode deixar influênciar por qualquer coisa que o afaste de Deus e do Seu propósito.

Não nos podemos embriagar com o sexo fora do casamento; com a pornografia; com a filosofia anti-cristã da nossa época; com um sistema de valores não cristãos; com uma abordagem evolucionista da nossa sociedade, não nos podemos deixar engodar por tudo aquilo que traz contenda com Deus.

Mas, pelo contrário, devemos ser cheios do Espírito Santo e dos valores apresentados pelas Escrituras Sagradas.
A melhor forma de exercer influência naqueles que nos rodeiam é pela acção do Espírito em nós e através de nós.
Que as convicções de Deus possam fluir através de nós através do Seu Espírito Santo.

A Bíblia diz-nos que quando Moisés estava no monte com Deus a glória de Deus tornava-se visível no seu rosto ele não precisava de falar para que as pessoas fossem influenciadas pela sua pessoa - bastava a sua presença, pois Deus abundava em Moisés, a Sua glória era resplandecente em Moisés.
A Bíblia informa-nos que a glória de Deus era de tal forma intensa na vida do apóstolo Pedro que a sua própria sombra “efectuava” milagres.
Mais, a Bíblia diz-nos que nós, hoje, somos a morada permanente do Espírito Santo e que a glória do Espírito permanece em nós de forma abundante e não desvanecente; diz Paulo que se o ministério da Antiga aliança foi glorioso muito mais é o da Nova aliança.

Portanto, de forma alguma, devemos ser influenciados pelos valores que nos rodeiam mas o Espírito de Deus, em nós, deve influenciar-nos e atrair-nos para os valores celestiais, para o molde perfeito que é Cristo e ao mesmo tempo marcar as vidas daqueles que nos rodeiam.

Que neste dia possas aceitar os desafios do Espírito de Deus:
1- De apresentarmos toda a nossa vida a Deus (o Senhor hoje requer todo o teu ser);
2- A não nos conformarmos com esta sociedade (Ele hoje quer mudar em nós tudo aquilo que não está de acordo com o seu “molde”);
3- A deixarmos que Ele nos renove em todo o nosso entendimento, em toda a nossa vida:
4- Tudo isso só pode acontecer plenamente se deixarmos que o Espírito nos encha da Sua presença;
5- Então, sim, vamos experimentar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus e tornar-nos-emos verdadeiros influenciadores, “fazedores” de opinião e não meramente peões nas mãos desta sociedade.